Não faço mais do que segui-lo e imitá-lo. Seu nome para os aviadores é uma bandeira. Você é nosso lider   Louis Blériot

1º voo do 14bis  23/10/1906 - 60m a 3m altura         2º voo do 14 bis 12/11/1906 - 220m a 6m de altura

Balão Brasil - 1898

Durante vários anos, estudei e viajei.

Segui com interesse, nos jornais ilustrados, a expedição de André ao Pólo Norte; em 1897, estava eu no Rio de Janeiro quando me chegou às mãos um livro em que se descrevia, com todos os seus pormenores, o balão dessa expedição.

Continuava eu a trabalhar em segredo, sem coragem de por em prática as minhas idéias. Tinha pouca vontade de arruinar-me. Esse livro, no entanto, do construtor Lachambre, esclareceu-me melhor e decidiu inabalavelmente minha resolução.

Parti para Paris….

 

Fiquei estupefato diante do panorama de Paris visto de grande altura; os arredores campos cobertos de neve… Era inverno.

Durante toda a viagem acompanhei as manobras do piloto; compreendia perfeitamente a razão de tudo quanto ele fazia.

Pareceu-me que nasci mesmo para aeronáutica. Tudo se me apresentava muito simples e muito fácil; não senti vertigem, nem medo.

E tinha subido…

 

No dia seguinte estava eu no atelier dos construtores.

Apresentaram-me projetos, mostraram-me sedas... Propuseram-me fazer construir um balão de 250 metros cúbicos…

Tomei a palavra: – O Sr. disse-me ontem que o peso desta seda, depois de envernizada, é de tantas gramas; o gás hidrogênio puro eleva tal peso.

Desejo uma barquinha minúsculo e, pelo que vi ontem, um saco de lastro me será bastante para passar algumas horas no ar; eu peso 50 quilos. Conclusão: quero um balão de cem metros cúbicos.

Grande espanto!

 

Com um grande balão, o centro de gravidade é como na fig. 1 se o aeronauta se colocar, por exemplo, à direita o centro de gravidade de todo o sistema não sofrerá deslocamento apreciável.

Com um balão muito pequeno o centro de gravidade fig. 2 não é garantido se não quando o aeronauta se mantém firme no centro. Insistiam Mashuron e Lachambre que a barquinha oscilaria muito. Aumentemos o comprimento dos cordões de suspensão, repliquei.

Foi o que se fez fig. 3. E o “Brasil” demonstrou uma estabilidade notável.

Creio mesmo que pensaram que eu era doido.

Alguns meses depois, o “Brasil”, com grande espanto de todos os entendidos, atravessava Paris, lindo na sua extrema transparência, como uma grande bolha de sabão.

Eu ía, ía, nas trevas. Sabia que avançava a grande velocidade, mas não sentia nenhum movimento. Ouvia e recebia a procela. E era só. Tinha consciência de um grande perigo, mas este não era tangível. Uma espécie de alegria selvagem dominava meus nervos. Como explicar isto? Como descrevê-lo? Lá no alto, na solidão negra, entre os relâmpagos que a rasgavam, entre o ruído dos raios, eu me sentia como parte integrante da própria tempestade.